Quanto mais o ser é atrasado, tanto melhor se encontra no ambiente
humano, aí realizando os seus baixos instintos e gozando a vida, mais
para ele a morte é morte. Com o caminho que escolheu não ficou nas suas
mãos senão um farrapo de vida, ao qual ele ficou desesperadamente
agarrado para não perder. É um temor que se aninha na sua alma, quando
ele pensa neste fim, que lhe arranca tudo o que mais ama.
Compreende-se
assim como é natural que o ser atrasado tenha medo da morte,
consequência lógica do seu alcance e por isso mergulhado na ilusão de
que está feita toda a sua vida, aonde ele julga que chega ao fim de
tudo.
Mas também isto tudo é providencial, porque é necessário
que o ser atrasado fique amarrado às duras experiências terrenas, que
apesar de dolorosas, a ele são indispensáveis para evoluir. Quem está
apegado a um mundo inferior, pelo seu próprio apego a ele tem de voltar.
A condenação é automática, devido à própria natureza do ser. Até que
tenha aprendido a lição através de mil dores e desilusões.
A
vitória do homem do mundo é a sua maior condenação é o que sempre o
prende à sua prisão. É lógico que o panorama da vida apareça
completamente diferente quando olhamos de cima para baixo, ou de baixo
para cima.
Mas quem conquistou outras qualidades e tem de
realizar outro trabalho, não possa deixar de se sentir desterrado e
estrangeiro no nosso mundo, no qual tem de tropeçar a cada passo com
coisas que não correspondem à sua natureza, com as quais não pode
construir a sua vida. Este homem pensa com tranquilidade na morte porque
ela não tem o poder de lhe tirar nada, porque o seu tesouro está no
crescimento espiritual que leva consigo.
O ser tanto
experimentou os enganos do mundo e entendeu o jogo de ilusões, que para
ele não se trata mais de por esforço de virtude, não desejar riquezas,
honras, poder, gozos materiais. Mas se trata pelo contrário, do facto de
que ele não pode deixar de rejeitar com sentido de repugnância tal tipo
de satisfações, recusando-as com náusea, apesar delas serem tanto
procuradas pela imbecilidade humana.
Mas também é lógico que
essa ilusão necessária desapareça com o despertar da consciência. Cada
um pela própria natureza, traz em si mesmo o seu prémio ou condenação. A
evolução representa um trabalho duro, e dele quase todos querem fugir.
É
o abandono cego ao AMOR, a submissão à vida que nos abre as portas ao
contacto com o infinito e às alegrias que dele deriva……….
………………… O eu se perde, e a vida triunfa.
Na
biologia, o materialismo de Darwin viu a evolução das formas físicas,
sem imaginar a uma evolução do espírito ou a causa das formas. A
evolução processa-se através da técnica da luta pela vida e a selecção
do mais forte; o mais forte, que em filosofia vemos reaparecer no
super-homem de Nietzsche. Tudo isto é verdade, mas somente no plano
biológico animal, num mundo inferior ao qual ninguém pode impedir que o
homem pertença.
Mas, isto não é mais verdadeiro se se subiu
evolutivamente. Quando se fala dessa coisa imensa que é a vida, é
preciso distinguir e precisar a que biologia nos referimos, porque todo
plano evolutivo tem a sua própria biologia, com leis próprias, que não
são as dos outros planos.
O esforço da vida é para conquistar
liberdade e domínio, a vida quer subir. Por isso a vida arrisca o novo,
para explodir da forma para o espírito, para evadir da matéria, para
elevar-se, sempre insaciável de superamentos. Assim a vida lança os seus
campeões para esse fim. O pensamento criador, concentrado nas formas
inferiores, não está morto. Ele está aí prisioneiro, mas pronto a se
desencadear em energia, porque quer-se libertar e retornar a ser ele
próprio. E eis que, no fundo de todo conceito, reencontramos sempre a
vertigem do infinito.
A percepção do mundo que nos circunda é dada pela nossa natureza; se nós mudarmos, tudo muda.